
Ostrordia, para meu constrangimento e fúria, ouvia eu (melhor isso que a surdez, talvez) a repetição constante das imprecações "absurdo", "ai, gente, isso é o fim", "não entra na minha cabeça". Parte da fúria se deve menos ao conteúdo e mais à fonte, cujos motivos muito provavelmente se deve bem menos ao objeto e sim aos descaminhos de uma alma perturbada.
O objeto das imprecações eram os vídeos de uma festa de aniversário. De um cachorro. Vejam, bem, não se trata dos festejos em relação ao meu próprio filho de quatro patas, mas aos de outrém, do qual participei.
Se houvera máquina do tempo que tolerasse excesso de tara ( o duplo sentido está posto) e voltasse 20 anos no tempo e contasse ao meu eu passado que um dia ele participaria de tal festejo; provavelmente seriam lançadas as mesmas imprecações. Como disse, caminhos de almas perturbadas.
Mas o tempo se encarrega de girar as coisas, de fazer cuspes cairem escarradamente nas testas, de nos surpreender com situações que nos obrigam a revisões, Upside-down. Curioso é que suspeito que aquilo que mais fervorosamente denegamos, tanto mais chance de nos reencontrarmos com isto; talvez estas negativas fervorosas já sejam indícios de trilhos com dormentes em processo de assentamento. Basta que a locomotiva da vida nos pegue neste desvio.
A festa foi ótima! Compartilhar com aqueles amigos a alegria, os efeitos e funções que criar um bichinho peludo podem dar foi bom. Senti-me menos só; somente quem já foi atropelado pela locomotiva da vida e tenta aprender como aconteceu pode compartilhar desses momentos.